There Are Places I Remember.
17:23:00
Ler é a maior aventura. Já passei por tantos lugares, conheci tantas pessoas! É claro que tenho os meus favoritos. Tem lugares que eu já estive uma vez e foi o suficiente, tem alguns que eu já esqueci o caminho, e tem outros que não esqueço jamais. De todas, a mais especial foi a primeira vez que passei pela Rua dos Alfeneiros e parei no n° 4 - nesse endereço estive tantas vezes que nem sei, e sempre que posso volto lá. De todas as noites que passei no armário sob as escadas, a última foi - sem dúvidas - a mais dolorosa.
Outro lugar que para mim já é mais do que familiar é a Rua Hímmel, Molching - mais específicamente o número 33. Lá sorri, chorei, fiquei ansiosa e ao mesmo tempo desejei que o tempo não passasse nunca. Jamais esquecerei as cenas de horror e as cenas de compaixão que vi, jamais esquecerei das crianças correndo pela rua, roubando balas e enganando a fome - enganando a fome, mas não a morte. Lá conheci aquela lavadeira saukerl, aquele pintor/tocador de acordeão, aquela menininha saumensch sacudidora de palavras, aquele menininho pedidor de beijos - ou seria Jesse Owens?! - e tantos outros. Aprendi a odiar mais ainda o Fuhrer, a procurar um certo judeu a cada desfile e até a simpatizar com a morte. Aprendi, ainda, que posso enfrentar todos os meus medos e dores lendo e pude compreender melhor a minha própria paixão pela leitura.
Já peguei expressos em plataformas com números esquisitos. Já passei por um mesmo dia de ano em ano e percebi quanta coisa pode mudar e de alguma forma tudo continuar igual - Em e Dex, Dex e Em para sempre. Estive com Henry Chinaski em cada miserável dia de sua vida e compreendi que tem coisas que nunca melhoram mesmo. Entre um por todos e todos por um eu observei que uma vacância casual ou uma morte súbita podem causar a maior confusão. Vidas entrelaçadas, histórias aleatórias se misturando à minha própria. Em uma de minhas viagens cheguei à conclusão de que pode até ser mais fácil sentir orgulho e preconceito, mas amar é sempre melhor.
Alice me levou a perseguir coelhos com relógios e a perceber que qualquer caminho serve quando você não sabe para aonde está indo, mas que por via das dúvidas é sempre bom saber para onde ir ou se corre o risco de ter a cabeça cortada. Não me entendam mal, mas o mundo dos espelhos é muito mais do que simples aparência/ o que parecer ser. Além disso, memórias póstumas podem ser muito, muito, muito melhores e divertidas do que histórias que começam no crepúsculo e terminam ao amanhecer. Muito cuidado pois qualquer passo pode levá-lo à condenação quando o alienista estiver por perto. Procurei não ler muitas histórias de amor nem conhecer meu próprio primo Basílio; pretendo viver de amor, e não morrer. Um aviso: chegar perto de um coração selvagem pode causar voragem e vertigem.
Há muitas vantagens em ser invisível, mas pode ser muito perturbador também - em todo o caso se tiver uma Sam e um Patrick por perto as coisas ficam mais suportáveis. Sempre tudo pode ficar bastante confuso, mas Charlie, assim como eu, sabia que uma boa leitura pode salvar vidas e mentes. Hazel Grace e Augustus Waters me levaram, recentemente, a uma viagem pela Holanda em que pude sentir os gostos e os ares de Amsterdam, pude ouvir os sotaques e admirar as pessoas em suas bicicletas. Descobri nessa oportunidade que nem sempre os autores que nos levaram para tantos lugares são como imaginamos e que às vezes a ignorância é uma benção. Peter Van Houten me mostrou, entre outras coisas, que bons finais não precisam de grandes explicações. A despedida é sempre, sempre algo muito triste. Não vou nem começar a contar sobre os planetas aos quais um certo principezinho me levou e sobre as pessoas que estavam por lá, pois não terminaria este texto hoje, vou deixar estas histórias para outro dia. Contudo, não esqueçam de dar atenção às rosas de seu jardim, elas são únicas, e de ficar de olho nos baobás que estiverem no seu caminho - por mais que pareçam pequenos, podem trazer grandes problemas. Até porque, conforme aprendi com um garotinho chamado Auggie, o extraordinário é diferente mesmo, mas também é muito belo.
Amo tanto os lugares por onde os livros me levaram e as pessoas que conheci nessas aventuras que toda a vez que chego ao fim, que preciso partir, me sinto um pouco abandonada. Não posso dizer que me sinto vazia, por que sempre estou mais cheia de experiência, conhecimento, ideias, sentimentos, sensações... Mas logo eu esqueço as despedidas e penso nos próximos encontros e em todos os lugares que me esperam em novas folhas ainda intocadas. Afinal, cidades de papel muitas vezes são mais concretas do que a pura realidade. Além disso, sempre que sentir saudade posso voltar aos meus lugares favoritos ou posso apenas ficar parada sentindo o prazer de sentir saudade, de sentir nostalgia por ter passado por tanta coisa bacana - feliz e/ou triste.
Realmente alguns infinitos são maiores do que outros, alguns livros precisam ser roubados só para nós e independente do tempo eu sempre direi 'always'.
Me contem suas aventuras e me indiquem mundos para visitar!
Beijos, Jeh. ♡
Me contem suas aventuras e me indiquem mundos para visitar!
Beijos, Jeh. ♡
2 comentários
Que texto maravilhoso *--*
ResponderExcluirObrigadaa! <3
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